(Vela decorada com tecido de lantejoulas)
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EU?
Eu sou alguém que sabe que o mundo adoeceu...
E a cada dia me convenço mais dessa nossa loucura, porque não me excluo.
Quantas vezes; me vi concordando com absurdos inconfessáveis?
Quantas vezes; acreditei na verdade comercializada, como se o valor da verdade correspondesse a preço?
Somos esse mundo louco que não se encara, que teme ver no espelho a cara feia da decepção, a horrenda mas infantil imagem de seus próprios passos, as tortuosas curvas dos nossos caminhos; encantados e consequentemente falsos.
Que prodigiosamente nos levam a lugar nenhum.
As pessoas boas estão sozinhas e desprezadas.
As pessoas simples frequentemente são subjugadas.
Os inocentes morrem cedo.
As qualidades são dia a dia questionadas, mas os defeitos podem ser revisados, revisitados, compreendidos, perdoados.
Queremos matar um leão por dia e ainda assim temos uma voraz fome de paz.
Suplicamos aos céus fagulhas de luz mas ignoramos olhos que brilham ao nos ver.
Perdemos horas decifrando os que nos magoaram e minutos rindo dos que dizem nos amar.
Clamamos contra a solidão, mas não permitimos que alguém nos ame de verdade.
Tememos a sinceridade, mas permitimos que nos enganem sem cerimónia.
Julgamos tolos os que nunca nos fariam sofrer e atraentes os que nos fizeram chorar.
Já não sabemos distinguir o riso do deboche, o apaixonado do idiota, o sofrimento do sofredor, o carinho do desejo, a inocência da dissimulação, a fé da ignorância, o amor da possessividade.
O mundo está doente...
Nós estamos doentes...
Estamos viciados em dor.
Vivemos um eterno; doping emocional, social, canibal, insano, digerindo as pílulas amargas da desilusão e transpirando com pressa nossa capacidade de amar. Diante de pessoas dignas nos apiedamos.
Com quem não tem valor nos aventuramos.
Somos a antítese do que sonhamos ser na infância.
Ou nem sabemos quem somos.
Louco mundo dos "sem noção"!
Perdemos a capacidade de amar sem medo, mas temos a coragem de nos entregar por nada.
O mundo está doente!
Somos o mundo!
E eu; faz tempo, nem sei quem sou.
(Rosane Rocha de Freitas)